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Todas as tardes de segunda a
sexta o cenário de Luana era o mesmo, sentava-se no banco da praça para esperar
o ônibus que levava os estudantes para a faculdade. Como sempre ansiosa, o
ônibus partia às 17 horas, porém já se encontrava na espera sempre com uma hora
de antecedência, na cabeça de Luana algo podia acontecer, já que saía de casa bem
antes, pegava uma condução, poderia ter um acidente no meio do caminho ou
passasse mal, ou esquecer algo em casa e teria que voltar, e nisso poderia
perder o horário do ônibus da faculdade.





Não era só ela, e sim todos os
estudantes cadastrados pela prefeitura tinham acesso ao ônibus para diversas
faculdades, época que não havia crise e o município dava essa ajuda para
aqueles que não tinham condições de custear sua passagem, e assim o ingresso ao
ensino superior era incentivado.





Luana estudava em uma faculdade pública,
mas mesmo trabalhando dependia totalmente dessa ajuda porque o custo da
passagem era alto e a situação dela ainda era mais complicada pois ela não morava
no município do ônibus. Ela só conseguiu vaga no ônibus porque a dona da casa
que ela morava a cadastrou e emprestara seu endereço porque ficou comovida pela
situação de Luana conseguir passar numa faculdade pública e não poder cursar
por falta de dinheiro. Assim como ela, haviam outros estudantes na mesma
situação, "uma errada por uma boa causa".





Já estava cansada quando chegava
na praça, corria para o banco e ali ficava, as vezes lia livros, olhava para os
lados caso avistasse algum estranho, além de ansiosa, também muito medrosa. Durante
a primeira semana era assim o seu comportamento, nem os pombos e os cachorros
de rua, embora amasse animais ela prestava muita atenção, como tinha pouco
tempo era aquela uma hora ali que revia sua matéria, terminava algum trabalho.





Depois cansou-se de aproveitar a
hora entre livros, cadernos e só permaneceu com a neura dos estranhos. Passando
mais um tempo, agora Luana mudou um pouco, passava quase uma hora observando
tudo que estava ao seu redor, os pombos da praça, quem atravessava o sinal,
outros estudantes que também aguardavam os ônibus, os velhinhos e suas
bengalas. Fizera amizade com Branquinho, o cachorro da praça, que ela dava seus
biscoitos, só não colocara nome nos pombos pois eram muitos e não gravaria os
nomes de todos.





Normalmente, sentava-se sozinha,
mas certa vez uma senhora sentou-se ao seu lado e as duas começaram a
conversar, era Dona Maria, que depois de ir ao mercado sentava um pouquinho
para descansar as pernas, e depois seguir seu trajeto para casa. As duas se
cumprimentavam, e conversavam sobre os preços das coisas, era só essa conversa,
tudo muito caro, o tomate baixou, o feijão subiu e assim ia o rumo da conversa. Era conversa alimentícia e Luana mais respondia
do que perguntava, depois se despediam e Luana continuava sozinha.





Com o passar do tempo, Luana passou
a rir sozinha, de vez em quando colocava a mão na boca ou um livro na frente do
rosto para disfarçar, já pensou ser pega rindo sozinha do nada, tinha medo que
a chamassem de louca. Ela ria de tudo, do Branquinho fazendo charme para ganhar
um biscoito, dos velhinhos espantando os pombos, dos estudantes que ela achava
uns com cara de loucos, alguns "nerds", outras meninas que se sentiam, e pareciam mais ir para
uma boate do que para a faculdade, muito salto para pouca mochila. E cá pensou,
que gente estranha, um anda torto, um tropeça na pedra, outro masca chiclete e
depois cola no banco da praça. Onde estou? Na praça ou no hospício? Será que
eles são normais e eu a louca?





Quando o ônibus chegava ela logo
entrava, e de vez em quando ainda ria do que havia visto do lado de fora, as
vezes vinha um atrasado correndo que só faltava se jogar na frente do ônibus
para não ficar para trás. Enfim foram quase cinco anos rindo, observando,
alguns se foram e outros se chegaram, Branquinho sumira, apareceste a Mel que
seria a nova degustadora de biscoitos da praça. Dona Maria diminui as idas devido aos problemas de saúde, algum
velhinho também ela já não via mais.





A faculdade terminou, Luana
passou com três 10 da banca, e nunca mais foi para aquela praça. Foi um alívio
grande, pois era muito cansativo trabalhar e estudar, quase não dormia, foi
motivo de orgulho para toda a família. Os anos se passaram, mas ela mesmo dizia
não sentir falta da faculdade e nem dos poucos colegas que fizera, mas sentia falta
da praça.





No fundo, ela achava que não fora
somente Deus que lhe deu forças para seguir em frente, mas sim aquela praça, e
todos que ali passaram, cada um com seu jeito estranho, sua história, sua loucura ou
normalidade, enfim observar o outro, se permitir a rir do que está ao seu redor
alivia a tensão do dia a dia. Foi uma lição por toda a vida assim ela dizia.





Luana acabou assumindo que dentro
da normalidade embora possa parecer contraditório também existia a loucura.
Adorava ser louca na praça, rir do nada, do nada rir e rir de tudo. Na certa,
ela riu muito dos outros, assim como também riram muito dela. Ou você acha que
só ela observava os outros hein.








Ciana Andrade 








  





Desafio 2 - Ficcionalize um fato da sua vida









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28 Comentários

  1. Acho que me vi em muitas partes do teu texto. As pessoas levam a vida muito no automático, não enxergam a graça das coisas e muitos nem mesmo reparam no que os rodeia. Mas é sempre bom observar e ser um tanto louco ♥

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    1. Faço isso até hoje.rsrs Tem muito de Luana em mim, e na loucura eu me acho.rsrs

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  2. Adorei! Como sempre né, Ciana?
    Fiquei tentada a fazer um texto assim mas não consegui pensar em qual fato da minha vida ficcionalizar... Fiz cada merda nessa vida! hahaha
    Mas está de parabéns!

    Um beijo.

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    1. KKK gente merdas sempre dão boas histórias, ah você deveria ter tentado, eu fiz esse no dia que postei era a única coisa que me passou pela cabeça que tivesse um fim mais curto, não sei resumir amiga, então relatar uma fato meu é muito difícil e no caso ser tratado como a Sali queria então putzs.
      Mas saiu né.rsrs bjs

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  3. A MENINA DO TEXTO CHAMA LUANA *_*
    Super amei tudo <3 Achei que você estivesse me descrevendo quando disse que ela ria sozinha de qualquer coisa haha. Você tem que me ver quando leio algo engraçado num livro rsrsrsrsrsrsrs.
    ❤️ Beijos.

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    1. rsrs a Lu eu também rio sozinha, falo sozinha. Somos assim oras, que bom que você gostou.bjks

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  4. Me identifiquei com a Luana, observo tudo ao meu redor também kk, e acho que realmente, todo mundo tem um pouco de loucura, como diz no texto "dentro da normalidade, existe um pouco de loucura" kk

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  5. Me vi um pouco Luana ^^ Rir, observar tudo, dar nome aos animaizinhos rsrs e o mais surpreendente foi quando vi que era uma "ficção da sua vida" muito criativo o jeito como tratou isso. Achei incrível ❤

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    1. Na verdade eu sou Luana Joyce.rsrs Como a proposta do desafio era esse eu tinha que transformar uma fato da minha vida numa ficção.bjs

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  6. Adorei a proposta do desafio, super criativa!
    Também adoro escrever mas nunca fiz nada que diretamente descrevesse minha vida, é um ótimo treino!
    A experiência da faculdade é mesmo marcante e tudo que a rodeia fica sempre em nossa lembrança.

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    1. Verdade!Gosto de desafios, é um ótimo exercício para a criatividade.bj

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  7. Trabalhar e estudar é realmente complicado, mas com fé a gente chega lá! E nada melhor do que seguir a vida rindo e se divertindo com tudo e com todos, vamos deixar as tristezas para aqueles que não conhecem a felicidade.

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    1. Realmente é complicado, na minha época eu ainda amamentava, mas no final deu tudo certo. bj

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  8. Acho muito bacana quando encontro um texto que me descreve. Parece que a pessoa está falando de mim, rs. ❤️ Simplesmente, adorei!! As vezes, na correria do dia a dia, nao nos damos o direito de agir como "loucas", algumas vezes pensando no que os outros vão achar. Ou por causa da tensão das situações cotidianas, não nos damos o direito de rir das pequenas coisas que acontecem a nossa volta. Mas quando aliviamos tudo com o riso, é tudo muito melhor. É sempre bom observar o que há em volta e agir como um louco, rs. ❤️

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    1. A loucura cotidiana sendo vivida de forma saudável alivia nossos problemas, observar os outros e a si próprio é muito bom. Realmente é uma pena que muitas pessoas ainda não se deram conta disso.bj

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  9. Uma longa trajetória, não? Eu adoro quando entro em um blog e começo a imaginar o texto, criar as personagens na minha mente. Imaginei o Branquinho, a Dona Maria e até mesmo como era a praça em que Luana ficava. No fim, toda nossa trajetória vale à pena, por mais cansativa que seja. E se tivermos algo que sempre nos motive, como no caso da menina do texto, fica mais fácil e mais proveitoso seguirmos nosso caminho.
    Parabéns pelo texto e esse desafio é muito legal <3
    Um beijo.
    www.janeladesorrisos.com

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    1. Obrigada Thaís pela visita e pelas palavras. Realmente este foi um grande desafio porque ficcionalizar um fato da minha vida não foi fácil não.rsrs
      bjs

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  10. Eu adoro histórias, mesmo não sendo pensado em alguém, sempre tem em qualquer lugar algo assim. Gostei muito dessa história, nem parece que o tempo se passou kkk sempre na praça durante toda a faculdade k. Mas eu acho que ela devia ter ido la hein, e até encontrar a mulher que conversava dos presos altos do mercado, com alguém acompanhando ela andar.

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    1. Esse texto foi baseado em um fato real, as coisas mudaram, a prefeitura suspendeu esse benefício. Agora há outras histórias em outros lugares. Te sugiro um outro texto meu que se chama No balançar da Felicidade, esse foi indicado a um prêmio creio que irá gostar. bjs

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  11. Eu AMEI o seu post, assim como amei seu blog, é tudo lindo e cheio de conteúdo aqui, por isso estou seguindo, se quiser, dê uma olhadinha no meu

    http://www.casadapequena.com.br/

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    1. Olá Milena! Já fui te visitar, depois dá uma olhadinha no que deixei pra ti. Obrigada sua linda. bjs

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  12. Que texto L-I-N-D-O! As vezes a loucura é uma lucidez escondida!
    Beijos,
    www.hitsdomomento.com

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  13. Adorei o texto, muito lindo.
    Vim retribuir a visita e o carinho lá no meu cantinho. Estou seguindo
    Beijos
    Diário de Casada

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    1. Obrigada Tássia! Acabei de vr de lá, e comentei mais dois posts seus tudo haver comigo.kkk O caderninho do blog e mudanças. Vou curtir seu blog sempre que puder. bjks

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  14. Ah, eu adoro seus textos!
    Acho que todos temos um pouco de Luana e que nosso lado Luana sempre tem "uma praça".
    Um lugar pra ser quem a gente é, quem a gente quer ser, quem a gente gosta de ser.
    "Luana acabou assumindo que dentro da normalidade embora possa parecer contraditório também existia a loucura." ♥

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    Respostas
    1. Isso mesmo Karoline, você entendeu perfeitamente o sentido do texto. Obrigada! bjs

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